Entre o VISÍVEL E O INVISÍVEl: equilíbrio para a alma. 🖤
Olha o Recalque meu bem! Porque você sente inveja? Freud explica.
Inveja e os Sistemas de defesa do Ego.
Talita Queiroz
8/23/20254 min read


Se você é da turma do 18+, com certeza já ouviu em algum momento da sua vida aquele famoso: “olha o recalque”depois de algum comentário que fez. Talvez você até tenha se sentido mal, sem entender direito o que estava sentindo. Normalmente, explicam que inveja é simplesmente desejar o que o outro tem e você não tem. Para os religiosos, um dos antigos pecados capitais. Só que o que quase ninguém te conta é que sentir inveja pode ir muito além de só querer o que o outro tem, só porque você também queria ter.
Após sua grande descoberta sobre o inconsciente humano, Freud explicou que, numa tentativa de proteger o ego, criamos o que ele chamou de mecanismos de defesa. Um desses mecanismos é o recalcamento, que acontece quando o indivíduo cria uma barreira entre o consciente e o inconsciente para evitar entrar em contato com experiências dolorosas que podem, inclusive, alimentar sentimentos como a inveja. Um exemplo disso pode ser visto quando uma criança sofre bullying por não ter uma mochila ou um tênis para ir à escola. Nesse momento, surge nela um sentimento doloroso que, ao crescer, não é de fato tratado, mas apenas afastado. Ou seja, a pessoa não resolve a ferida, apenas a bloqueia emocionalmente, empurrando essas lembranças para o inconsciente.
Fica evidente que as emoções não estão necessariamente ligadas a um único mecanismo de defesa, mas podem se manifestar em vários ao mesmo tempo. Nos casos de recalcamento da inveja, por exemplo, o indivíduo pode também recorrer ao isolamento, afastando da consciência os pensamentos relacionados ao comportamento atual. Esse processo se diferencia do recalcamento, pois não envolve a emoção de forma direta. Além disso, há ainda a sublimação, quando o desejo recalcado é transferido para outra área da vida, levando o indivíduo a canalizar sua energia para o trabalho, relacionamentos, arte ou outras atividades, muitas vezes sem perceber.
O inconsciente pode ser compreendido como a parte da mente com capacidade praticamente infinita de armazenar tudo aquilo com que tivemos contato ao longo da vida, mesmo antes de nossa consciência estar formada. Qualquer informação ou experiência, ainda que não tenha sido compreendida de imediato, é registrada e guardada no inconsciente. Esse conjunto de dados acumulados influencia diretamente quem somos, moldando a forma como vivemos, sentimos e enxergamos o mundo. Para Freud, ele seria, também, o espaço onde se guardam conteúdos que não podem ser acessados sem causar sofrimento. Eu, porém, acredito que sua função vai além disso: o inconsciente não armazena apenas aquilo que foi reprimido, mas também todas as informações às quais tivemos contato, desde mensagens sutis e subliminares até frequências energéticas e registros que, para quem acredita numa perspectiva mais ampla, podem vir até de outras vidas. Assim, o inconsciente se torna não apenas um depósito de traumas, mas um campo vivo de memórias, percepções e infinitas possibilidades de informações.
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Tudo aquilo que é empurrado para o inconsciente impacta diretamente nas atitudes do indivíduo, ele entendendo ou não de onde aquilo pode vir. A inveja, por exemplo, seria apenas um sintoma, digamos, a ponta do iceberg de uma causa muito mais profunda. Freud foi extremamente sábio e sagaz ao direcionar seu olhar para além da matéria, do visível, do que é mostrado. Foi assim que conseguimos compreender os porquês de tantos comportamentos. Muitas pessoas se perguntam: “Por que eu sou assim?”, mas não chegam a uma conclusão. Isso acontece porque não é tão simples alcançar um estado de ab-reação, o famoso “cair a ficha”, mesmo em terapia. Afinal, cada ser humano é uma verdadeira caixinha de pandora, carregada de subjetividade, e possuímos diversos mecanismos de defesa atuando ao mesmo tempo. É por esse motivo que a psicanálise é considerada uma ciência investigativa, pois busca compreender cada peça do quebra-cabeça humano, desde o sintoma até a sua origem mais profunda no inconsciente.
Então, podemos dizer que, nesse caso, não é apenas a inveja que se manifesta como sintoma de algo maior. A histeria, a angústia, a ansiedade… todos eles são sinais de um trauma psicológico ou de experiências que, de alguma forma, estão guardadas no inconsciente, protegidas por algum mecanismo de defesa. De forma semelhante, isso pode acontecer com doenças psicossomáticas, quando essas informações protegidas no inconsciente são tão intensas que se manifestam fisicamente.
Contudo, a psicanálise é um caminho para compreender muitos “porquês”, inclusive o motivo de sentirmos inveja. A descoberta dessa raiz não deve ser usada como justificativa para o comportamento, mas sim como um processo de conscientização. A partir desse entendimento, torna-se possível começar a tratar a causa e não apenas o efeito.
Por fim, investigar o comportamento humano com base na psicanálise desenvolve inúmeras respostas para o indivíduo, oferece caminhos diferentes, traz autoconhecimento e possibilita uma verdadeira mudança de vida. Acredito, inclusive, que seria tão importante que deveria ser ensinada nas escolas. O homem hoje sabe mais sobre o mar e o espaço do que sobre si mesmo, e conhecer a si próprio é, sem dúvida, o primeiro passo para compreender qualquer outra coisa.


